sábado, 26 de novembro de 2011

PENSAMENTO SABÁTICO
















São Paulo, cidadela do agito no ritmo da solidão, o céu cinzento como uma fala do cotidiano, mas estamos no verão, cadê o céu azul que foi embora ontem entre os arranha-céus. Volta aqui, nem que seja pelo abstracionismo azulado da fantasia.

É uma tarde de sábado com ar de descompromisso, sem maldade, sem sonho e sem consolo. É melhor eu levar um som no violão, hora de tocar alguma do Djavan, só pra despertar o ouvido, desbaratinar qualquer tentativa de tristeza. Sem essa de lamentações pelo telefone. 

Mas antes eu preciso comprar cerveja, é sempre bom tomar uma cerveja. Vou buscar no bar da esquina.

Alguém me acompanha?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

QUARENTA E TRÊS DO SEGUNDO TEMPO






Como bem escreveu o Juca Kfouri na Folha: "Só mesmo a chamada República Popular do Corinthians para ter um Imperador. Que fuma, bebe e joga!"












Drama, esperança e a glória redentora no final. Igual ao roteiro de um filme heróico, onde o mocinho vence só nos instantes finais, o Corinthians marcou o gol vitorioso aos quarenta e três minutos do segundo tempo. Virou o jogo pra cima do Atlético Mineiro (2 x 1) e deu um passo importante para o título.

A jogada antológica da virada se passou a exatos dois minutos do final da partida. Através de uma dividida (lance mais aguerrido impossível) a bola cai nos pés de Émerson, este, ainda no campo de defesa - com fôlego de maratonista, mesmo sentindo o peso da angústia de um Pacaembu lotado à espera da vitória -, dispara em direção ao gol, com a leveza e a fúria de um gavião, toca com a precisão de um escultor para Adriano - ele que já conquistou o Império na Itália – desloca-se entre a zaga adversária e chuta a pelota magicamente para o fundo das redes do goleiro atleticano, elevando ao nirvana a República de Itaquera.

É gol! Gol do Corinthians! É delírio, é loucura! É Adriano para o Timão!

Hercúleo e avassalador como um general napoleônico, o camisa 10 marcha em direção à torcida para comemorar. Como um menino da favela da Vila Cruzeiro, ou de qualquer outro lugar periférico do planeta, tira a camisa, a rodopia no ar e, à sombra da Fiel, ergue as mãos ávidas aos céus, agradecendo pelo momento tão esperado, o seu primeiro gol com o manto sagrado do "Curinthian".    

Fim de jogo, fim de tarde em São Paulo. 20 de novembro de 2011, um dia a ser eternizado pelos deuses do futebol. No horário de Brasília passavam das 19h. Do pavilhão alvi-negro no Pacaembu, agitavam-se as bandeiras.

É vibração, é vibração sem fim.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

MALDOSOS VERSOS E "A MORTE DOS AMANTES"




Charles Baudelaire foi processado por causa dos poemas que ele escreveu no seu clássico "As Flores do Mal". Também pudera, o livro é datado de 1857, em pleno 2° Império, quando corria a censura de Napoleão na França.
 
Nessa obra, aliás, o seu único livro publicado, o poeta, com seus maldosos versos, fala da destruição do homem. Aborda de maneira materialista e espiritual o ser humano entre a essência e o horror da vida.

Enquanto Victor Hugo acreditava que o poeta guiava a humanidade, para Baudaleire esse tipo de escritor era um amaldiçoado. Tanto que agradecia a Deus por ser um amaldiçoado, pois era isso que o fazia poeta.

Um detalhe que eu vejo como elementar na sua obra é a contradição. Em Baudelaire encontramos uma visão simbolista, mas ele não era simbolista; tem poemas parnasianos, mas ele não era parnasiano; tinha realismo, mas ele não era realista. Tamanha facilidade em dialogar com todas essas escolas e estilos vem da agilidade dele em criar e recriar imagens de todo o tipo.   

Maldições e características poéticas à parte tem um poema dele chamado “A morte dos Amantes” que eu gosto. Acho bonito. Compartilho aqui com vocês.


Vamos ter lençóis de aura ligeira,
profundo divã como um mausoléu,
e flores estranhas na prateleira
abertas pra nós sob um outro céu.

No fim da paixão, chama derradeira,

nossos corações, como um fogaréu,
irão refletir sua luz parceira
nas almas iguais, espelhos sem véu.

Numa tarde rosa e azul-desmaio,

nós vamos trocar um único raio,
um longo soluço cheio de adeus;

e
depois um Anjo, ao abrir as portas,
dará vida novas aos teus e meus
espelhos sombrios e chamas mortas.

(Charles Baudelaire)