segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

PRIMEIRAS IMPRESSÕES



Ela chega de vestido florido, um colar com madrepérola no pescoço, sandálias, flores no cabelo, um estilo que alardeia Woodstock. Convido a tomar uma gelada, como normalmente se faz nessas situações. 

Ela senta, cruza as pernas à la Sharon Stone, me sinto abduzido. Exibe algumas tatuagens no braço direito, cada desenho uma história cujo roteiro mostra a contramão que é a sua vida, hesitações, labirintos, sala vazia, letras do Bob Dylan. Também diz ter mais na região da lombar, aí já são outros significados, figuras de tesouros e sereias, reis e valete de paus. 

Enquanto fala, em alguns momentos, alisa o meu braço, é o tipo de pessoa que gosta de falar pegando, mas tudo bem, tem a mão quente e a pele macia. 

No meio da conversa, um cara bem marombado passa perto da mesa, ela diz:
- Que exagero, muito forte assim o homem perde a naturalidade, fica muito forçado, né? 



Percebe-se que no seu modo de encarar o mundo tudo deve soar natural, meio zen, meio domingo no parque. 

A voz mansa, a fala bem pontuada, transmite isso. É uma tarde de verão, no entanto, a atmosfera do ar remete a delicadeza de uma manhã de outono. Ela acende o cigarro, eu abro uma página do meu livro de bolso, cito Marquês de Sade: "Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza."
 
Agora, o silêncio, mergulho fundo no seu olhar, me pego numa visão surrealista, vejo algas balançando no verde mar dos seus olhos, mas, nem dá tempo de decifrar, em seguida volto à tona. Ela percebe a minha viagem e solta um sorriso sem graça. Olhamos para as garrafas vázias de cerveja na mesa, bitucas de cigarro queimando no esqueiro, o menu aberto na porção de fritas.

- Vamos sair daqui? Ela balança a cabeça, concordando com a ideia.
- Pra onde vamos? Ela pegunta. Eu não resisto, dou uma sugestão e seguimos pela avenida, olho para o sinal do semáforo, está verde.     

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