Assim que um céu negro se formar, pretendo estar ao seu lado. Quando começar a relampear é a sua mão que eu gostaria de segurar, logo que os primeiros pingos caírem, é embaixo do seu guarda-chuva que eu vou ficar. Se por acaso, você esquecer a sombrinha em casa, sem problemas, nada mal sentir a roupa encharcada, vê-la colada no seu corpo, depois, juntos, tiraríamos a roupa um do outro para secar, enquanto isso... Contigo vale tudo, tanto a sensação de proteção quanto a de apuro. Só não posso passar um temporal longe de você, o barulho da chuva é a trilha sonora da nossa comédia romântica.
sábado, 30 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
CAMINHANDO ATÉ O BANCO E LEMBRANÇAS HIPPIES
Estava tocando Bob Marley no meu MP3. Voltava do banco, álias, que fila infernal era aquela, e olha que eu estava com um gibi do Homem-Aranha, mas, mesmo acompanhado de boa leitura, hoje foi complicado aguentar a demora.
Voltando ao cancioneiro jamaicano, eu andei cerca de dez quilômetros até o banco, ida e volta, no entanto, eu caminhava anestesiado por um reggae místico que nunca foi tão lancinante quanto na voz dele, na minha opinião, é um dos maiores artistas do século 20.
Lembro de quando eu descobri a magia do som do Bob, corria o ano de 94 e 95. Eu devia cursar o primeiro ou segundo ano do ensino médio. Tinha um maluco que todas sextas-feiras levava o violão pra escola e nos intervalos mandava vários reggaes do Bob. O engraçado é que ninguém falava inglês, mas todo mundo mundo cantava as músicas. "Is this love that I'm feeling/ I wanna know, wanna know/ wanna know now...", e por aí seguia o coro dos malucos.
Era um tempo de descoberta, de formação intelectual, junto com o reggae também veio a fascinação pelo mundo hippie, no melhor estilo "deixe estar". Valeu John Lennon! "Let It Be", assina que é tua, saudoso beatle. Aí também comecei a curtir grupos nem tão conhecidos, por aqui, como o Fairport Convention. Nessa época eu não hesitava, o meu olhar vagava e se perdia fácil, fácil no horizonte.
E como eu hoje já escutei muito Bob e citei a banda inglesa que não é tão conhecida como o regueiro, termino este post com a bela canção "Who knows where the time goes" desse que é considerado por muitos arqueólogos como o primeiro grupo do estilo electric folk.
Não se preocupa não, se por acaso você escutar essa melodia e sentir vontade de pôr a mochila nas costas e partir sem direção, é normal, esta música, assim como outras do estilo, carregam esse dom.
Voltando ao cancioneiro jamaicano, eu andei cerca de dez quilômetros até o banco, ida e volta, no entanto, eu caminhava anestesiado por um reggae místico que nunca foi tão lancinante quanto na voz dele, na minha opinião, é um dos maiores artistas do século 20.
Lembro de quando eu descobri a magia do som do Bob, corria o ano de 94 e 95. Eu devia cursar o primeiro ou segundo ano do ensino médio. Tinha um maluco que todas sextas-feiras levava o violão pra escola e nos intervalos mandava vários reggaes do Bob. O engraçado é que ninguém falava inglês, mas todo mundo mundo cantava as músicas. "Is this love that I'm feeling/ I wanna know, wanna know/ wanna know now...", e por aí seguia o coro dos malucos.
Era um tempo de descoberta, de formação intelectual, junto com o reggae também veio a fascinação pelo mundo hippie, no melhor estilo "deixe estar". Valeu John Lennon! "Let It Be", assina que é tua, saudoso beatle. Aí também comecei a curtir grupos nem tão conhecidos, por aqui, como o Fairport Convention. Nessa época eu não hesitava, o meu olhar vagava e se perdia fácil, fácil no horizonte.
E como eu hoje já escutei muito Bob e citei a banda inglesa que não é tão conhecida como o regueiro, termino este post com a bela canção "Who knows where the time goes" desse que é considerado por muitos arqueólogos como o primeiro grupo do estilo electric folk.
Não se preocupa não, se por acaso você escutar essa melodia e sentir vontade de pôr a mochila nas costas e partir sem direção, é normal, esta música, assim como outras do estilo, carregam esse dom.
domingo, 24 de abril de 2011
O LADO "B" DA GASTRONOMIA - UMA CRÔNICA TRASH-FOOD
Crédito da arte: esta ilustração genial é foi feita por Fernando Nakutis, o blog da fera é: http://nandonakutis.blogspot.com/
Meus últimos trocados foram embora na "Promoção":
um salgado mais um refrigerante por 3,00.
Atire a primeira pedra quem nunca, ou por causa da correria do dia a dia, sem tempo para almoçar direito, ou por falta de dinheiro mesmo, ou até por gosto, desejo, tentação, enfim, levante o garfo quem jamais comeu um hot dog no tio da esquina, uma fritura de beira de estrada, um espeto, sabe-se lá de que tipo de carne, bem passado... Em vez de um prato farto e saudável, tanto no momento da refeição quanto atendendo uma vontade passageira.
É sobre este lado da culinária, do chamado fast-food, que muitos consideram trash que eu gostaria de comentar. Portanto, ilustre leitor, senhora dona de casa, esqueçam nesta leitura os pratos requintados e o ambiente aconchegante dos grandes restaurantes, assim como as saborosas matérias de alguma "Edição Especial - Comer Bem da Veja", pois neste lado "B" da dramaturgia gastrônomica nem sempre o final, o famoso The End, é feliz. Muitas vezes termina com alguma complicação gástrica, estomacal, entre outros diagnósticos.
Todavia, o momento trash food, também pode ser vir como uma aprendizado, como símbolo de superação. Certa vez, o jogador de futebol Viola, que ganhou fama defendendo o time do meu ilustre Corinthians, disse que no começo da carreira cansou de comer pão com mortadela e tomar Tubaína, Hoje, tudo indica, com a fama e o dinheiro que conquistou, nunca mais deve ter se prostado diante de algum lanche desse naipe. Nesse mesmo roteiro do Viola, muitos jogadores, que atualmente vivem no luxo, devem ter passado por esse cardápio franciscano. Creio, eu, que até a expressão: "Comi o pão que o diabo amassou", nasceu de uma experiência trash food.
No entanto, vale constatar: o que seria daqueles que caminham na base da pirâmide social, se não fossem estes alternativos pontos alimentícios. Imagine o office-boy, o moto-boy, os focas, os universitários atrás de estágio, o cidadão que à procura de emprego nas ruas do centro, sem lugares que estejam sintonizados com a realidade social dos seus bolsos.
A fome muitas vezes tem pressa. A conta bancária muitas vezes é deveras diferente daquilo que o trabalhador que ganha um salário mínimo gostaria realmente de comer. Outro detalhe a ser analisado por este fenômeno da culinária pop, é a estética, quando não ausente, totalmente crua em relação aos nossos sensores visuais e auditivos. É só recorrer a imagem, por exemplo, daquele churrasco grego sendo preparado ao ar livre, com moscas rodeando, além de outros detalhes que afetam a imaginação de quem observa.
Como tudo na vida, esse lado "B" tem seus prós e contras, seus sabores e dissabores, faixas que tocam bem e outras riscadas, mas uma coisa é fato: eis uma culinária popularmente urbana que se renova em cada barraca, vendinha e lanchonete, não só fazendo a alegria de quem gosta, mas também daqueles que só tem uns trocados no bolso.
(Texto publicado originalmente na edição 11 da Santo André Magazine)
terça-feira, 19 de abril de 2011
PARABÉNS AO FILHO DE LAURA
Hoje é aniversário del rey Roberto Carlos. Cresci escutando as suas majestosas canções. Minha irmã Neya é súdita do seu repertório, tem todos os vinis e CDs dele. Graças a ela comecei a curtir o universo romântico das suas letras. Gosto mais das antigas, aquelas das primeiras décadas da sua carreira. Depois dos anos 1980 e 1990 pra cá, acho que o nosso imperador cancioneiro entrou numa fase muito comercial e religiosa que pra falar a verdade eu não sou muito chegado. Mas as velhinhas eu curto muito.
Queria escrever alguma coisa sobre essa majestade da música brasileira, mas o tempo não permite, correria total aqui na minha redação. Então, só pra não passar em branco, deixo uma música, entre tantas, que eu acho bonita e gostosa de ouvir.
terça-feira, 12 de abril de 2011
ALUCINAÇÃO POÉTICA
Cara! A primeira vez que eu li este poema do Roberto Piva foi tão marcante, tão punk quanto uma viagem de mochilão na base de meros trocados no bolso de um jeans açoitado pelo tempo. Manja? Aquela pura doideira franciscana. Lembro que eu trabalhava de office-boy. Nessa época eu já cultivava o hábito de andar sempre com algum livro, ora na pastinha de "serviços de banco", ora carregando na mão mesmo. E nessa ocasião , eu tinha acabado de comprar o livro "Paranóia" do Piva num daqueles sebos do centro de São Paulo, que se encontra de tudo, se marcar até um original do "Lusíadas". Coisa de louco esses sebos. O meu serviço estava adiantado, precisava matar umas horas para não chegar muito cedo no escritório. Então, sentei na escadaria do Teatro Municipal e fui, casualmente, direto na página desse poema:
BOLETIM DO MUNDO MÁGICO
Meus pés sonham suspensos no Abismo
minhas cicatrizes se rasgam na pança cristalina
eu não tenho senão dois olhos vidrados e sou um órfão
havia um fluxo de flores doentes nos subúrbios
eu queria plantar um taco de snooker numa estrela fixa
na porta do bar eu estou confuso como sempre mas as
galerias do meu crânio não odeiam mais a batucada dos ossos
colégios e carros fúnebres estão desertos
pelas calçadas crescem longos delírios
punhados de esqueletos são atirados no lixo
eu penso nos escorpiões de ouro e estou contente
os luminosos cantam nos telhados
eu posso abrir os olhos para a lua aproveitar o medo das nuvens
mas o céu roxo é uma visão suprema
minha face empalidece com o álcool
eu sou uma solidão nua amarrada a um poste
fios telefônicos cruzam-se no meu esôfago
nos pavimentos isolados meus amigos constróem um manequim fugitivo
meus olhos cegam minha mente racha-se de encontro a
uma calota minha alma desconjuntada passa rodando
Roberto Piva - Paranóia (1963)
Nossa! Que viagem forte este poema provocou na minha mente, versos malucos, físicos e metafísicos, vento forte, porre solitário, um rock and roll alucinado como o som do The Doors. Nesse dia, na escadaria do Municipal, o meu juízo, que já não era muito normal, ficou girando, girando...
segunda-feira, 11 de abril de 2011
UM OCEANO NUM PONTO DO UNIVERSO E POR AQUI EU TÔ PERDIDO COMO AS ESTRELAS SEM GALÁXIAS
Leio na internet notícias sobre a lua Europa, que gravita ao redor de Júpiter. Fico sabendo que ela é revestida por uma camada de gelo brilhante e com riscos coloridos. Segundo cientistas da NASA, pode ter vida nesse solo lunar, já que lá tem elementos fundamentais como água, calor e material orgânico de cometas.
Olho pro céu, e só de imaginar que além, muito além, dele é possível que exista outros oceanos soltos por aí... Caramba! Isso me impressiona. Sigo em frente ainda mais fascinado pela beleza da vida, com as suas eternas revelações. Mas é tão estranho pensar no vagar de um mar enigmático, enquanto eu fico perdido em algum cruzamento dos 140 milhões de metros quadrados da Terra, ora no Malawi, ora em Mogi das Cruzes. Estranho também é, aliás, muito estranho eu diria, a sensação de ficar perdido. Delírios, miragens, dúvidas: Mastercard, Visa, dinheiro ou em cheque, pago agora ou depois, ali ou aqui, vou pra lá ou vou pra cá, a loira ou a morena, nem a modernidade do GPS resolve o conflituoso horizonte de um lost, de um perdido, seja numa autoestrada ou na 25 de Março. Toda essa loucura à base de uma infinita confusão faz parte da atmosfera de quem fica perdido.
Essas contradições relacionadas entre a força da natureza e a fragilidade da nossa alma, de certa forma, me emocionam como se eu estivesse participando de uma encenação trágica de Shakespeare. Penso numa filosofia de compreensão do universo, tento escrever um ensaio sobre a nossa presença na Terra. Aí eu reflito que enquanto um oceano vaga no universo, alguns homens correm para as suas casas, outros seguem sem rumo e eu, particularmente, fiquei perdido em algum cruzamento, não sei bem onde eu estou...
Às vezes me vejo numa estrada na qual as placas aparecem e somem sem dar tempo de ler qual é próxima cidade, e olha que eu vou devagar, apesar de escutar Infinita Highway do Engenheiros do Hawaii:
"Cento e dez, cento e vinte
Cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta..."
Essa velocidade é só na trilha sonora mesmo, pois na verdade eu tô bem devagar, quase parando. Deve ser o lance da miragem, só pode ser, na realidade não tem placa nenhuma, não há sinalizações, é tudo delírio, a única verdade é que eu preciso seguir em frente. Só não posso ficar no roteiro de um personagem da antiga série "Perdidos no Espaço".
Eu vou conseguir, um dia eu chego no meu destino, um dia eu fico de boa como a lua Europa que tem seu ponto fixo no universo, gravitando tranquilamente no entorno de Júpiter. Aí eu não vou mais me imaginar como aquelas estrelas sem galáxias, as quais os astrofísicos chamam de estrelas orfãs, eremitas do espaço.
Um dia eu me encontro.
Olho pro céu, e só de imaginar que além, muito além, dele é possível que exista outros oceanos soltos por aí... Caramba! Isso me impressiona. Sigo em frente ainda mais fascinado pela beleza da vida, com as suas eternas revelações. Mas é tão estranho pensar no vagar de um mar enigmático, enquanto eu fico perdido em algum cruzamento dos 140 milhões de metros quadrados da Terra, ora no Malawi, ora em Mogi das Cruzes. Estranho também é, aliás, muito estranho eu diria, a sensação de ficar perdido. Delírios, miragens, dúvidas: Mastercard, Visa, dinheiro ou em cheque, pago agora ou depois, ali ou aqui, vou pra lá ou vou pra cá, a loira ou a morena, nem a modernidade do GPS resolve o conflituoso horizonte de um lost, de um perdido, seja numa autoestrada ou na 25 de Março. Toda essa loucura à base de uma infinita confusão faz parte da atmosfera de quem fica perdido.
Essas contradições relacionadas entre a força da natureza e a fragilidade da nossa alma, de certa forma, me emocionam como se eu estivesse participando de uma encenação trágica de Shakespeare. Penso numa filosofia de compreensão do universo, tento escrever um ensaio sobre a nossa presença na Terra. Aí eu reflito que enquanto um oceano vaga no universo, alguns homens correm para as suas casas, outros seguem sem rumo e eu, particularmente, fiquei perdido em algum cruzamento, não sei bem onde eu estou...
Às vezes me vejo numa estrada na qual as placas aparecem e somem sem dar tempo de ler qual é próxima cidade, e olha que eu vou devagar, apesar de escutar Infinita Highway do Engenheiros do Hawaii:
"Cento e dez, cento e vinte
Cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta..."
Essa velocidade é só na trilha sonora mesmo, pois na verdade eu tô bem devagar, quase parando. Deve ser o lance da miragem, só pode ser, na realidade não tem placa nenhuma, não há sinalizações, é tudo delírio, a única verdade é que eu preciso seguir em frente. Só não posso ficar no roteiro de um personagem da antiga série "Perdidos no Espaço".
Eu vou conseguir, um dia eu chego no meu destino, um dia eu fico de boa como a lua Europa que tem seu ponto fixo no universo, gravitando tranquilamente no entorno de Júpiter. Aí eu não vou mais me imaginar como aquelas estrelas sem galáxias, as quais os astrofísicos chamam de estrelas orfãs, eremitas do espaço.
Um dia eu me encontro.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Ela chega de vestido florido, um colar com madrepérola no pescoço, sandálias, flores no cabelo, papo cabeça, um estilo que alardeia Woodstock. Convido a tomar uma gelada, como normalmente se faz nessas situações. Ela senta, cruza as pernas à la Sharon Stone, em Instito Selvagem. Sinto-me abduzido.
Exibe algumas tatuagens no braço direito, cada desenho uma história, cujo roteiro mostra a contramão que é a sua vida, hesitações, labirintos, sala vazia, letras do Bob Dylan, poesias de Hilda Hilst. Também diz ter mais algumas tattoos na região da lombar, aí já são outros significados, figuras de tesouros e sereias, reis e valete de paus. Imagino eu. Enquanto fala, em alguns momentos, alisa o meu braço, é o tipo de pessoa que gosta de falar pegando, mas tudo bem, tem a mão quente e a pele macia.
No meio da conversa, um cara bem marombado passa perto da mesa, ela diz:
- Que exagero, muito forte assim o homem perde a naturalidade, fica muito forçado, né? Aliás, deu pra perceber que no seu modo de encarar o mundo tudo deve soar natural, meio zen, meio domingo no parque, meio balanço de rede, meia dose e pode fechar a conta. A voz mansa, a fala bem pontuada, transmite isso. É uma tarde de verão, no entanto, a atmosfera do ar remete a delicadeza de uma manhã de outono.
Ela acende o cigarro, eu abro uma página do meu livro de bolso, cito Marquês de Sade:
"Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza."
Agora, o silêncio, mergulho fundo no seu olhar, me pego numa visão surrealista, vejo algas balançando no verde mar dos seus olhos, mas, nem dá tempo de decifrar, em seguida volto à tona. Ela percebe a minha viagem e solta um sorriso sem graça. Olhamos para as garrafas vazias de cerveja na mesa, bitucas de cigarro queimando no cinzeiro, o menu aberto na porção de fritas.
- Vamos sair daqui? Ela balança a cabeça, concordando com a ideia.
- Pra onde vamos? Ela pegunta. Eu não resisto, dou uma sugestão "indecente". Mas o cúpido diz amém. Seguimos pela avenida, olho para o sinal do semáforo, está verde.
No meio da conversa, um cara bem marombado passa perto da mesa, ela diz:
- Que exagero, muito forte assim o homem perde a naturalidade, fica muito forçado, né? Aliás, deu pra perceber que no seu modo de encarar o mundo tudo deve soar natural, meio zen, meio domingo no parque, meio balanço de rede, meia dose e pode fechar a conta. A voz mansa, a fala bem pontuada, transmite isso. É uma tarde de verão, no entanto, a atmosfera do ar remete a delicadeza de uma manhã de outono.
Ela acende o cigarro, eu abro uma página do meu livro de bolso, cito Marquês de Sade:
"Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza."
Agora, o silêncio, mergulho fundo no seu olhar, me pego numa visão surrealista, vejo algas balançando no verde mar dos seus olhos, mas, nem dá tempo de decifrar, em seguida volto à tona. Ela percebe a minha viagem e solta um sorriso sem graça. Olhamos para as garrafas vazias de cerveja na mesa, bitucas de cigarro queimando no cinzeiro, o menu aberto na porção de fritas.
- Vamos sair daqui? Ela balança a cabeça, concordando com a ideia.
- Pra onde vamos? Ela pegunta. Eu não resisto, dou uma sugestão "indecente". Mas o cúpido diz amém. Seguimos pela avenida, olho para o sinal do semáforo, está verde.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
UM MOMENTO DE RARO DELÍRIO
post publicado originalmente no blog anterior
"Alô! Aqui é Emanuelle, secretária do jornalista Fábio Bézza. Ele não está no momento, mas eu anotarei e passarei o seu recado". Eu imaginei essa cena. Deixa eu explicar o porquê. O leitor que acompanha este blog sabe que eu trabalho numa mídia pequena na simpática cidade de Santo André. Como é uma empresa que está dando os primeiros passos, lá todo mundo faz um pouco de tudo, então, além de escrever as matérias, eu ligo e muito para os anunciantes não só a fim de pegar informação sobre a montagem das propagandas, mas também fazer aquilo que chamamos de feed back, saber se está gostando da divulgação, da parte publicitária, etc. e tal.
Nesta semana, ligando para um dos clientes falei com uma secretária cuja voz tranquila e suave me atendeu educadamente e adoravelmente. Assim que eu desliguei vislumbrei uma imagem profética, ou melhor, como disse no título do post "Um momento de raro delírio".
Lá estava eu, no topo da carreira, um homem procurado por veículos de comunicação do mundo inteiro. O pessoal do New York Times me pedindo um artigo sobre a influência de Dostoiévski nos escritores da geração beatnik. A National Geographic solicitando as minhas recentes fotos do mundo animal, como a que tirei de um leopardo devorando um macaco. A Playboy pedindo um texto para ilustrar o ensaio fotográfico de alguma beldade do panteão global. A revista Vida Simples requerendo uma reportagem nirvânica e mística sobre os hippies que vendem artesanatos na Praça da República. E sempre, sempre, enquanto o mundo da mídia ficava a minha procura, Emanuelle, seguia falando: "Alô! Aqui é Emanuelle secretária do jornalista Fábio Bézza. Ele não está, mas eu anotarei e passarei o seu recado".
Na minha visão futurística, Emanuelle, surge numa moldura mestiça, mais de ascendência japonesa do que brasileira. Vinda ao mundo num corpo sobrenatural traçado por uma beleza devastadora, um capricho dos deuses que amam, pregam a alegria e o prazer.
Emanuelle sentada de maneira comportada, com as pernas compridas cruzadas, o longo cabelo amarrado num coque estilo de gueixa, anotando as notícias alvísseiras ao meu respeito, passando as boas-novas do universo inventado por Gutenberg para o ex-jornalista da sarjeta, agora, profissional requisitado pelos medalhões da imprensa. Eu, em plena forma literária, filosófica e jornalística, escrevendo todos os tipos de textos, de gêneros e formatos: editoriais, reportagens, contos, crônicas, aforismos, sátiras, artigos e tudo mais. E da minha mesa, trabalhando como um louco, feliz da vida, escutando Emanuelle dizer: "Alô! Aqui é...
Nesta semana, ligando para um dos clientes falei com uma secretária cuja voz tranquila e suave me atendeu educadamente e adoravelmente. Assim que eu desliguei vislumbrei uma imagem profética, ou melhor, como disse no título do post "Um momento de raro delírio".
Lá estava eu, no topo da carreira, um homem procurado por veículos de comunicação do mundo inteiro. O pessoal do New York Times me pedindo um artigo sobre a influência de Dostoiévski nos escritores da geração beatnik. A National Geographic solicitando as minhas recentes fotos do mundo animal, como a que tirei de um leopardo devorando um macaco. A Playboy pedindo um texto para ilustrar o ensaio fotográfico de alguma beldade do panteão global. A revista Vida Simples requerendo uma reportagem nirvânica e mística sobre os hippies que vendem artesanatos na Praça da República. E sempre, sempre, enquanto o mundo da mídia ficava a minha procura, Emanuelle, seguia falando: "Alô! Aqui é Emanuelle secretária do jornalista Fábio Bézza. Ele não está, mas eu anotarei e passarei o seu recado".
Na minha visão futurística, Emanuelle, surge numa moldura mestiça, mais de ascendência japonesa do que brasileira. Vinda ao mundo num corpo sobrenatural traçado por uma beleza devastadora, um capricho dos deuses que amam, pregam a alegria e o prazer.
Emanuelle sentada de maneira comportada, com as pernas compridas cruzadas, o longo cabelo amarrado num coque estilo de gueixa, anotando as notícias alvísseiras ao meu respeito, passando as boas-novas do universo inventado por Gutenberg para o ex-jornalista da sarjeta, agora, profissional requisitado pelos medalhões da imprensa. Eu, em plena forma literária, filosófica e jornalística, escrevendo todos os tipos de textos, de gêneros e formatos: editoriais, reportagens, contos, crônicas, aforismos, sátiras, artigos e tudo mais. E da minha mesa, trabalhando como um louco, feliz da vida, escutando Emanuelle dizer: "Alô! Aqui é...
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