quinta-feira, 7 de abril de 2011

PRIMEIRAS IMPRESSÕES


Ela chega de vestido florido, um colar com madrepérola no pescoço, sandálias, flores no cabelo, papo cabeça, um estilo que alardeia Woodstock. Convido a tomar uma gelada, como normalmente se faz nessas situações. Ela senta, cruza as pernas à la Sharon Stone, em Instito Selvagem. Sinto-me abduzido. 

Exibe algumas tatuagens no braço direito, cada desenho uma história, cujo roteiro mostra a contramão que é a sua vida, hesitações, labirintos, sala vazia, letras do Bob Dylan, poesias de Hilda Hilst. Também diz ter mais algumas tattoos na região da lombar, aí já são outros significados, figuras de tesouros e sereias, reis e valete de paus. Imagino eu. Enquanto fala, em alguns momentos, alisa o meu braço, é o tipo de pessoa que gosta de falar pegando, mas tudo bem, tem a mão quente e a pele macia.

No meio da conversa, um cara bem marombado passa perto da mesa, ela diz:
- Que exagero, muito forte assim o homem perde a naturalidade, fica muito forçado, né? Aliás, deu pra perceber que no seu modo de encarar o mundo tudo deve soar natural, meio zen, meio domingo no parque, meio balanço de rede, meia dose e pode fechar a conta. A voz mansa, a fala bem pontuada, transmite isso. É uma tarde de verão, no entanto, a atmosfera do ar remete a delicadeza de uma manhã de outono.

Ela acende o cigarro, eu abro uma página do meu livro de bolso, cito Marquês de Sade:
"Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza." 

Agora, o silêncio, mergulho fundo no seu olhar, me pego numa visão surrealista, vejo algas balançando no verde mar dos seus olhos, mas, nem dá tempo de decifrar, em seguida volto à tona. Ela percebe a minha viagem e solta um sorriso sem graça. Olhamos para as garrafas vazias de cerveja na mesa, bitucas de cigarro queimando no cinzeiro, o menu aberto na porção de fritas.
- Vamos sair daqui? Ela balança a cabeça, concordando com a ideia.
- Pra onde vamos? Ela pegunta. Eu não resisto, dou uma sugestão "indecente". Mas o cúpido diz amém. Seguimos pela avenida, olho para o sinal do semáforo, está verde.     

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