domingo, 24 de abril de 2011

O LADO "B" DA GASTRONOMIA - UMA CRÔNICA TRASH-FOOD


Crédito da arte: esta ilustração genial é foi feita por Fernando Nakutis, o blog da fera é: http://nandonakutis.blogspot.com/



Meus últimos trocados foram embora na "Promoção": 
um salgado mais um refrigerante por 3,00. 

Atire a primeira pedra quem nunca, ou  por causa da correria do dia a dia, sem tempo para almoçar direito, ou por falta de dinheiro mesmo, ou até por gosto, desejo, tentação, enfim, levante o garfo quem jamais comeu um hot dog no tio da esquina, uma fritura de beira de estrada, um espeto, sabe-se lá de que tipo de carne, bem passado... Em vez de um prato farto e saudável, tanto no momento da refeição quanto atendendo uma vontade passageira.

É sobre este lado da culinária, do chamado fast-food, que muitos consideram trash que eu gostaria de comentar. Portanto, ilustre leitor, senhora dona de casa, esqueçam nesta leitura os pratos requintados e o ambiente aconchegante dos grandes restaurantes, assim como as saborosas matérias de alguma "Edição Especial - Comer Bem da Veja", pois neste lado "B" da dramaturgia gastrônomica nem sempre o final, o famoso The End, é feliz. Muitas vezes termina com alguma complicação gástrica, estomacal, entre outros diagnósticos.

Todavia, o momento trash food, também pode ser vir como uma aprendizado, como símbolo de superação. Certa vez, o jogador de futebol Viola, que ganhou fama defendendo o time do meu ilustre Corinthians, disse que no começo da carreira cansou de comer pão com mortadela e tomar Tubaína, Hoje, tudo indica, com a fama e o dinheiro que conquistou, nunca mais deve ter se prostado diante de algum lanche desse naipe. Nesse mesmo roteiro do Viola, muitos jogadores, que atualmente vivem no luxo, devem ter passado por esse cardápio franciscano. Creio, eu, que até a expressão: "Comi o pão que o diabo amassou", nasceu de uma experiência trash food.
 
No entanto, vale constatar: o que seria daqueles que caminham na base da pirâmide social, se não fossem estes alternativos pontos alimentícios. Imagine o office-boy, o moto-boy, os focas, os universitários atrás de estágio, o cidadão que à procura de emprego nas ruas do centro, sem lugares que estejam sintonizados com a realidade social dos seus bolsos.
 
A fome muitas vezes tem pressa. A conta bancária muitas vezes é deveras diferente daquilo que o trabalhador que ganha um salário mínimo gostaria realmente de comer. Outro detalhe a ser analisado por este fenômeno da culinária pop, é a estética, quando não ausente, totalmente crua em relação aos nossos sensores visuais e auditivos. É só recorrer a imagem, por exemplo, daquele churrasco grego sendo preparado ao ar livre, com moscas rodeando, além de outros detalhes que afetam a imaginação de quem observa.
 
Como tudo na vida, esse lado "B" tem seus prós e contras, seus sabores e dissabores, faixas que tocam bem e outras riscadas, mas uma coisa é fato: eis uma culinária popularmente urbana que se renova em cada barraca, vendinha e lanchonete, não só fazendo a alegria de quem gosta, mas também daqueles que só tem uns trocados no bolso.  


(Texto publicado originalmente na edição 11 da Santo André Magazine)

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