terça-feira, 31 de maio de 2011

A COMÉDIA QUE FICOU DIVINA


Quem ainda não viajou pelo Universo (Terra, Purgatório, Paraíso) de Dante tem uma ótima oportunidade. Obra-prima da literatura mundial A Divina Comédia ganhou, pela Ateliê Editorial, uma novíssima edição luxuosa, com direito a ilustrações do pintor renascentista Sandro Botticelli.

Li Dante nos tempos da faculdade. Gosto principalmente do início:

"A meio caminhar de nossa vida
me encontrar em uma selva escura:
estava a reta minha vida perdida

Ah! Que a tarefa de narrar é tensa
essa selva selvagem, rude e forte,
que volve o medo à mente que a figura" 


Tudo começa quando um poeta se perde na floresta e é cercado por três feras - um leão, simbolizando a violência e o orgulho, uma pantera, representando a luxúria e uma loba, sinônimo de fraude e mesquinhez -, até que é salvo pelo poeta Virgílio que o leva para viajar...  

Aí está o pontapé inicial dessa literatura cheia de simbolismos que Dante deixou para a humanidade. A própria selva, no cenário da sua poesia, simboliza as coisas negativas do homem.

Ele conseguiu penetrar no imaginário popular de vários povos do mundo, por isso, essa sua obra é considerada um dos clássicos da literatura universal. Nela encontramos variadas influências de arte e ciência. Seu inferno, por exemplo, nada mais do que uma visão aristotélica do mundo. No seu inferno também encontra-se várias coisas da mitologia grega.

Outra grande sacada foi usar vários tipos de linguagem: coloquial, formal, popular... Pela época que escreveu, em plena Idade Média, não ha dúvidas que a sua fala vai do baixo ao mediano.   

Ao ler, quem tem algum conhecimento dos textos bíblicos, percebe que Dante tirou, ou melhor, utilizou na sua imaginação, muitas coisas da Bíblia, principalmente das cartas de Paulo. 

Um fato curioso, anotou o escritor Martin Seymor em Os 100 livros que mais influenciaram a humanidade: "A comédia - divina foi adicionada por uma grata posteridade - agrada imediatamente a qualquer um que goste de poesia, mesmo que seja mais agradável çê-la com a ajuda de notas introdutórias para contextualizá-la. 


Por tudo isso, "A Divina Comédia", tem o seu lugar garantido no panteão da literatura. Quem ainda não leu, fica aí a recomendação.  

segunda-feira, 30 de maio de 2011

CAMINHANDO E PENSANDO NA VIDA
















Sai andando pela cidade para organizar as minhas ideias. O dia era propício para caminhar, tarde de outono, um sol tímido acompanhado de uma temperatura garbosamente fria.
 
No percurso, eu ia parando em algumas bancas de jornais, olhava as manchetes das revistas e dos jornais, as fotos e os fatos do que vem sendo notícia. Tragédias e celebridades, basicamente daí seguiam as informações. Esse mundo é muito louco. Analisei. Enquanto uns querem ficar famosos do nada, outros também, do nada, morrem.
  
Prossegui com a caminhada. Deixei o mundo alheio pra lá. Muita coisa na minha vida não fazia mais sentido. Refleti. Comecei a pensar em emprego, carro, grana, móveis planejados e tudo que envolve o chamado bens materiais. Preciso melhorar, cobrei-me.

Em certa altura da andança também pensei nos bens sentimentos. Pensei muito nela. Lembrei com carinho dos momentos que passamos juntos. Um beijo no melhor estilo new age, embaixo de uma queda d’água, escorados numa pedra, em uma tranquila corredeira. Recordei a maneira adventícia que nos conhecemos. Sorri, nostalgicamente. 

Na sequência a saudade me nocauteou. Como diz a lírica cantada pelo Zeca Baleiro “Ando tão à flor da pela que qualquer beijo de novela me faz chorar”.

Parei, sentei no banco de um ponto de ônibus. Reflexões, transeuntes, saudades, carros, ideias, faróis, desejos, buzinas... Confesso que é uma situação meio que oblíqua, ficar pensando na vida, parado num ponto de ônibus. De repente apareceu uma senhora. Pediu uma informação.
-Esse ônibus pega a Consolação?
-Sim, respondi.
A senhora que lembrava a minha saudosa avó, agradeceu, entrou no busão e eu voltei a caminhar, entrei a esquerda, virei a direita, na tentativa de organizar as minhas ideias.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

LEMBRANÇAS PANTANEIRAS

 
"No Rastro da Lua Cheia". Como é linda essa música, parceria do Almir Sater com o Renato Teixeira. Lembro das noites que eu passei no Pantanal, paquerando a cintilância de uma Lua Cheia que parecia se derramar naquela imensidão verdejante, irradiando a escuridão da noite, enquanto tomava pinga e batia um papo descontraído com os peões da fazenda. Momentos em que estive absolutamente fora do horário de Brasília, liberto de qualquer ideia de compromisso, desconectado da minha vida urbana. Foi emocionante perder-se por aquela estrada chamada "Real Parque", naquele entardecer dourado. Era como se eu estivesse em outro plano, outra estratosfera, biosfera, ionosfera... Uma trip metafísica. Muito além dos conhecimentos geográficos. Mas como diz um trecho da canção: "Lembrança ainda me resta/ Guardada no coração..." Um dia eu volto pra lá. 

terça-feira, 24 de maio de 2011

PERIGO EM TÓQUIO



"Ou você apaga essa matéria ou nós apagamos você." É nesse clima de medo para não dizer terrorismoa à liberdade de imprensa, encarnada no risco de vida do repórter, que começa o livro-reportagem do jornalista americano Jake Adelstein sobre a máfia japonesa. 

Intitulada "Tóquio Proibida", a obra é o resultado de 12 anos de coberturta jornalística do submundo da capital do Japão para o maior jornal do país, "Yomuri Shimbum", no qual investigou assassinatos, pornografia infantil, corrupção, tráfico humano entre outras mazelas.

Um detalhe interessante a ser considerado sobre o autor é que ele, mesmo não dominando completamente o idioma nipônico, foi o primeiro jornalista estrangeiro contratado por um jornal de destaque no país. 

O livro tem um calhamaço peso médio de 456 páginas, só pelas primeiras algo me diz que eu terei uma boa e instigante leitura.  

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PORRE, ROCK E POESIA

O camarada passa a noite falando merda com os amigos, chega em casa pela manhã completamente bêbado, mas não pode dormir, pois tem compromissos profissionais nas próximas horas, então ele vai pra de baixo do chuveiro, ameniza a brisa, depois coloca o som do Buddaheads no youtube, e deixa o tempo passar. Se liga:


Se não bastasse, o camarada vai quase que se arrastando até a prateleira, saca um livro de poesias do velho "Buk", acomoda o corpo ressacado no sofá,  e lê:
quatro e meia da manhã
os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro
e dirão:
"ele tá bêbado de novo",
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo
e
como algo esfaqueado e
cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

(Charles Bukowski)

sábado, 21 de maio de 2011

A ESTRADA





Foto Arquivo Pessoal: Eu, Niltinho e Aline em alguma estrada que ia dar em Corumbá, Mato Grosso do Sul.




Pra mim ela é uma metáfora da vida construída no deslocamento, ora sul, ora norte, ora Mogi das Cruzes, ora Malawi. Uma incorporação de mudanças, aventuras e encontros. 

Sou fascinado pela estrada e as suas variações: céu azul,  paisagens, horizonte, posto de gasolina e afins, sem a mínima noção de latitude, ou longitude. Se vajar é preciso, se perder também é preciso, deixa o GPS de lado, só presta atenção nas curvas que está ótimo. 

Eis a estrada, sempre um roteiro sem porto seguro que me conduz à esmo por caminhos desconhecidos, tortuosos, labirínticos e provavelmente sem saída. Uma trilha não apenas quilométrica, mas sonora, às vezes sob o som de um folk viajante do Neil Young, às vezes um triste blues que parece soar direto do Delta do Mississipi. 

A estrada é o meu único conforto, por isso, antes de pôr o pé na cova eu boto o pé na estrada. Gosto de quando ela sai de algum cafundó e termina em alguma praia, capturando o som das ondas, deixando-me de frente pro mar.

Gosto da estrada porque ela passa por todos os lugares, e sai de todos. Assim como um sujeito que toca violão num boteco a troco de bebida e comida, a estrada não tá nem aí pra nada, apenas leva aqueles que buscam aventuras e estrelas perdidas.

Curto a estrada na escrita de Jack Kerouac, onde ela é mística, profética e, acima de tudo, sonho.   

quinta-feira, 19 de maio de 2011

VAPOR BARATO EM RITMO DE FUGA


Se não me falhe a memória, a primeira vez que escutei a música Vapor Barato foi no final do filme Terra Estrangeira, um dos melhores do diretor Walter Salles. Acredito que a maioria já escutou essa canção feita pelo grande Jards Macalé, que já foi interpretada até pelo grupo O Rappa. Mas poucos conhecem esse longa-metragem feito em ritmo de fuga e desesperança. 

O filme foi lançado em 1995, não é fácil encontrá-lo nas locadoras, mas não custa nada ir atrás e conferir essa belíssima obra do cinema nacional. Essa cena final aí, que tem disponível no youtube, é sensacional, a versão na voz da Gal Costa também é demais.  

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ABRE ASPAS OU COISAS QUE EU LI NO FINAL DE SEMANA

“O consumo torna-se patologia, em que sempre se olha para o que o outro tem, mesmo que não haja a menor necessidade de ter aquilo. Com tanta valorização do dinheiro e da aparência, fica mais difícil encontrar amizade e amor verdadeiros.”
Daniel Piza em sua coluna de domingo no Caderno 2 do Estadão.  

No tempo do “ficar” quase nada fica, nem o amor daquela rima.”
Xico Sá em seu blog no site da Folha.

“Acho a politização da juventude conectada à internet a coisa mais significativa que aconteceu no mundo desde 1960”
Julian Assange, fundador do Wikileaks em entrevista na Revista Trip desse mês.

sábado, 14 de maio de 2011

ESSE É O CARA, SÓ COM A LETRA M: MUNDO MODERNO MELHORE

 
Sou fã desse humorista. Dos seus diversos e inesquecíveis personagens, os que mais gosto são: Bozó, Alberto Roberto (o canastrão), Coalhada (jogador de futebol), Pantaleão, Aroldo, e mais uma pá de figuras que me faziam rachar o bico. Hoje a tv tem programas de humor que tão mais pra bobalhões do que pra cômicos. Em certo ponto concordo com o que disse o ator Fabio Assunção na Revista Trip desse mês. "Os humoristas de hoje perdem a mão confundindo humor com bullying. Se alguém tem um teto de vidro, ofendendo a dignidade dos homens. Isso pra mim não é humor, é mediocridade. E rimos disso?

Além de ter um talento ímpar pra fazer humor, o cara é muito inteligente. Tempo atrás lançou o livro "Três casos de polícia", afora outros que já escreveu. Enfim, acho o Chico Anysio sensacional. Tem um vídeo dele no youtube numa das vezes em que foi ao programa do Jô Soares. Nele, faz um monólogo incrível usando apenas palavras com letra M e ainda cantou o clássico do Louis Armstrong. Dá uma olhada! O texto é bonito pra dedéu. É só clicar no play aí em cima.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

DE-MÊ A SUA MÃO


Preciso da sua mão para atravessar o deserto, sair da guerra e, sem trégua, me recolher  numa ilha, encontrar a minha paz, ver o sol beijar o mar, enquanto faço castelos de areia. Com você tudo fica mais fácil, toda noite é estrelada, toda manhã é reluzente.

Preciso da sua mão para caminhar em todos os sentidos: norte, sul, leste, oeste; para dar partida no carro, engatar a primeira e sair zunindo pela estrada rumo a verdadeiras aventuras.

Preciso da sua mão para apertar o play, dançar loucamente, encontrando o ritmo que me faz viajar, chegando próximo das Três Marias, que me faz pensar que tudo vale a pena, até mesmo assistir a o SBT

Preciso da sua mão para renegar a ilusória e desvairada realidade da antena parabólica, das ruas solitárias, das pessoas que destilam um festival de egoísmo e chatice. 

Preciso da sua mão, com ela eu me sinto herói e bandido, santo e profano, homem e menino.

domingo, 8 de maio de 2011

MÃE É MÃE!



Não há frase popular mais autoexplicativa do que aquela “Mãe é tudo igual, só muda o nome e o endereço”. O perfil que caracteriza a figura materna é algo bem cristalino, fácil e bonito de entender. “Leva a blusa, vai esfriar”. “Vai com Deus meu filho, cuidado!”. Exclusivas, ternas e acolhedoras são as vozes maternas. 

Mãe é psicanalista, seu colo é o divã dos filhos, pois tem o dom de decifrar os desejos e os dissabores, os sonhos e as desilusões das suas crias. 

Mãe tem a ver tem a ver com aquela música do Cidade Negra “Amor que não se pede/ Amor que não se mede/ Que não se repete”. Sentimento tão forte que, creio eu, a maioria dos filhos é inepto a compreendê-lo, digo isso por mim.
Mãe é mãe! É olhar carinhoso, é abraço gostoso, é ombro amigo. Sei que eu não sou um ótimo filho, que eu poderia ser bem mais presente em casa. Todavia, citando Torquato Neto: “Mamãe, mamãe não chore/ A vida é assim mesmo/ Eu fui embora.” Sim, mãe é um certo exagero também, quer manter os filhos embaixo de suas asas, mas no fundo, vontade à parte, ela sabe que não é bem assim.

Ainda bem que mãe também é coragem e, sobretudo, compreensão. “Mãe é viver pra amar”, dizia a frase de um caminhão. Concordo. Feliz Dia das Mães! Em especial pra Dona Iraci, beijos e gratidões.   

sábado, 7 de maio de 2011

TRILHA SONORA

Zélia Duncan parada numa esquina, violão empunhado com estilo, cantando Itamar Assumpção, num dia cinzento. Gostei. Essa música do saudoso Itamar tem um clima bem curioso, aliás, assim como grande parte do seu repertório. E outra, tem uma letra simples e descontraída sobre as surpresas do amor. Caiu bem na voz da Zélia. Em relação ao clipe, ele faz parte da coleção de videos "Música de Bolso", tem uma porrada de gravações legais com músicos bacanas. É isso aí.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

SAMPA NO SAMBA DE ADONIRAN BARBOSA


Trechos do DVD do programa Ensaio da TV Cultura.

O samba de Adoniran Barbosa constrói uma cidade poética e rebelde. São Paulo das décadas de 1920 e 1930, do começo do século XX, que dava adeus aos bondes, ao trem da Cantareira, as cantinas do Bexiga, e começava a modernizar com os seus arranha-céus, redes telefônicas, ruas asfaltadas, caminhando sempre pra frente na direção do progresso.
O samba de Adoniran, fala da memória daqueles que não tem lugar nesta modernidade, às vezes agressiva. Relata as aventuras das pessoas simples, do encanador, do serralheiro, do pedreiro, da empregada doméstica. Com uma voz inconfundível, rouca, desamparada e de timbre grave este autêntico sambista paulistano cantava com a mesma voz dos que moram no espaço da exclusão social, dos que vivem sem eira nem beira como as personagens Mato Grosso e o Joca de "Saudosa Maloca". No samba de Adoniran escuto a voz da multidão que fica duas horas dentro de um ônibus para chegar ao serviço. Chego perto da pluralidade de sons desta metrópole tão rica e tão pobre ao mesmo tempo, cheia de contradições, um lugar de vários planos arquitetônicos. O samba de Adoniran toca na minha apaixonada alma de paulistano, que gosta de perambular pelas ruas do centro velho, e que sente agonia de ver uma fila lenta e extensa de carros nos horários de pico. O samba de Adoniran é uma crônica, uma poesia afinada sobre São Paulo.Talvez por isso, eu sempre encontro o samba de Adoniran pelos cantos desta metrópole.

SALVE, ADONIRAN! QUEM DISSE QUE EU NÃO GOSTO DE SAMBA?