Trechos do DVD do programa Ensaio da TV Cultura.
O samba de Adoniran Barbosa constrói uma cidade poética e rebelde. São Paulo das décadas de 1920 e 1930, do começo do século XX, que dava adeus aos bondes, ao trem da Cantareira, as cantinas do Bexiga, e começava a modernizar com os seus arranha-céus, redes telefônicas, ruas asfaltadas, caminhando sempre pra frente na direção do progresso.
O samba de Adoniran, fala da memória daqueles que não tem lugar nesta modernidade, às vezes agressiva. Relata as aventuras das pessoas simples, do encanador, do serralheiro, do pedreiro, da empregada doméstica. Com uma voz inconfundível, rouca, desamparada e de timbre grave este autêntico sambista paulistano cantava com a mesma voz dos que moram no espaço da exclusão social, dos que vivem sem eira nem beira como as personagens Mato Grosso e o Joca de "Saudosa Maloca". No samba de Adoniran escuto a voz da multidão que fica duas horas dentro de um ônibus para chegar ao serviço. Chego perto da pluralidade de sons desta metrópole tão rica e tão pobre ao mesmo tempo, cheia de contradições, um lugar de vários planos arquitetônicos. O samba de Adoniran toca na minha apaixonada alma de paulistano, que gosta de perambular pelas ruas do centro velho, e que sente agonia de ver uma fila lenta e extensa de carros nos horários de pico. O samba de Adoniran é uma crônica, uma poesia afinada sobre São Paulo.Talvez por isso, eu sempre encontro o samba de Adoniran pelos cantos desta metrópole.
SALVE, ADONIRAN! QUEM DISSE QUE EU NÃO GOSTO DE SAMBA?
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